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Futebol para cair na folia

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Axé e a paixão pelo futebol

No ano de 1985, na Bahia, um atacante nigeriano chamado Ricky se destacava nos campos da Fonte Nova. Assim marcando muitos gols e conduzindo o Vitória ao título estadual. Ao mesmo tempo, um time jovem do interior, inspirado em uma empresa de ônibus, fazia uma viagem histórica liderada pelo talentoso jogador Bobô.

Ricky
Ricky

Infelizmente, os clubes baianos não tiveram um bom desempenho no cenário nacional, com o Bahia sendo eliminado na segunda fase do Campeonato Brasileiro e o Leônico nem mesmo passando da primeira etapa da competição. Enquanto isso, a música baiana passava por uma transformação profunda, combinando instrumentos como pau elétrico, guitarra baiana, instrumentos de sopro e percussão em um novo ritmo liderado pela voz de Luiz Caldas.

Popularização do axé

Ivete Sangalo
Ivete Sangalo

Foi então que o axé se popularizou, conquistando as ruas, rádios, vozes e carnavais do país. Com isso, era natural que o ritmo passasse a se conectar com o esporte que é uma paixão nacional, e em pouco tempo, ícones da música se tornaram torcedores símbolos dos clubes do estado.

Ao longo dos mais de 30 anos, ícones da música baiana como Luiz Caldas, Ivete Sangalo, Bell Marques, Durval Lelys, Tatau, Daniela Mercury, Claudia Leitte e Margareth Menezes se tornaram parceiros de ritmo e levaram as cores de seus times aos palcos, transformando cada carnaval em um emocionante e divertido clássico Ba-Vi, repleto de histórias marcantes. O ritmo contagiante que tomou as ruas de Salvador acabou rompendo as fronteiras da cidade e, seguindo os passos do futebol, conquistou o mundo.

Durante quase quatro décadas de história do axé nas ruas de Salvador, a paixão pelo futebol esteve sempre presente. Tanto nas letras das músicas que homenageavam o esporte quanto nos hinos dos próprios clubes. Os fãs do Chiclete com Banana, por exemplo, já cantaram sobre “cabelo raspadinho, estilo Ronaldinho” enquanto os seguidores de Claudia Leitte afirmavam que “futebol, carnaval, não mata, não engorda e não faz mal”.

Avenida Vira Palco do axé

Ba-Vi
Ba-Vi
A avenida, que é palco de inúmeros carnavais em Salvador, já foi também cenário de disputas de clássicos do futebol. No circuito Osmar, localizado no Campo Grande, os torcedores do Bahia e do Vitória criaram uma espécie de arquibancada na região da avenida Carlos Gomes. De um lado, as bandeiras, camisas e adereços eram predominantemente vermelho, azul e branco para homenagear o Bahia. Do outro lado da rua, os torcedores exibiam bandeiras e camisas vermelhas e pretas para demonstrar sua paixão pelo Vitória. Esse corredor se tornou um ponto tradicional de saudações aos clubes baianos e, quando passavam por ali, os artistas não deixavam de cantar o hino do seu clube de coração. Bell Marques e Ricardo Chaves, ambos torcedores do Bahia, tinham uma relação ainda mais divertida com a tradição. Durante anos, Ricardo desfilou à frente do Chiclete com Banana e amarrava uma camisa do Bahia em um fio. Bell, que desfilava logo em seguida, pegava a camisa deixada pelo amigo, balançava para delírio da torcida e seguia a execução do hino tricolor.

Muitos artistas consideram a canção de Adroaldo Ribeiro Filho como uma das origens do axé, já que o hino do Bahia é uma das músicas mais tocadas durante o carnaval de Salvador. “Mais um, mais um Bahia. Mais um, mais um título de glória” é um trecho que ecoa pelas ruas da cidade.

Porém, o Vitória também tem um hino marcante. No mesmo período de surgimento do axé, o clube adotou uma nova canção com o intuito de arrecadar fundos para a construção do Estádio do Barradão, inaugurado no ano seguinte. Com a batida do axé, os torcedores do Vitória têm um brado que exalta o estilo do clube: “Eu sou Leão da Barra, tradição. Eu sou vermelho e preto, eu sou paixão”.

Frevo e a paixão pelo futebol

O futebol e o frevo, dois pilares da cultura pernambucana, têm uma conexão profunda com os três maiores clubes da capital do estado. Sport, Santa Cruz e Náutico possuem uma forte ligação com o período de carnaval, seja através de seus hinos ou dos blocos que animam as ruas e avenidas da cidade.

Santa Cruz

Capiba
Capiba

O Santa Cruz é um clube com forte ligação à cultura pernambucana e ao carnaval. Fundado como um movimento popular, diversos elementos, personalidades e troças simbolizam essa conexão ao longo da história do clube. O compositor Capiba é a figura que melhor representa essa relação, tendo composto a marcha de exaltação “O Mais Querido” em 1957, que se tornaria o hino oficial do Santa Cruz. Atualmente, essa tradição é mantida pela “Troça Minha Cobra”, que reúne milhares de tricolores e carnavalescos nas segundas-feiras de carnaval em Olinda. O objetivo da troça é perpetuar e fortalecer a conexão dos torcedores com as expressões do clube, homenageando figuras importantes para a história e o universo coral.

Sport

Nelson Ferreira
Nelson Ferreira

A alguns quilômetros de distância do Estádio do Arruda, na Ilha do Retiro, surgiu outro frevo antológico. Apesar de ser torcedor do Santa Cruz, o maestro e compositor Nelson Ferreira não hesitou em compor uma música em homenagem ao Sport. Daí nasceu a Moreninha, um dos cânticos mais entoados pela torcida rubro-negra ao longo da história.

No entanto, o hino oficial do Sport é um Frevo-Canção de autoria de Eunitônio Pereira, inicialmente composto em 1975. As estrofes de “Sport, uma razão para viver” rapidamente conquistaram a simpatia dos torcedores, mas levou décadas para se tornar oficial.

“A composição foi finalizada na década de 1990, já que a versão original tinha apenas uma estrofe. Em 1998, foi decidido que seria o hino oficial, homologado pelo Conselho Deliberativo e tudo mais. Mas eu achava que era muito pouco, apenas seis versos. Mais tarde, tive a felicidade de compor o restante, então o hino passou a ter quatro estrofes. Mas o ritmo sempre foi o mesmo, que é um ritmo característico do nosso estado”, diz Eunitônio.

Náutico

Claudionor Germano
Claudionor Germano

Na tradição do Náutico, o renomado cantor e compositor Claudionor Germano é um dos destaques mais marcantes. Aos 90 anos de idade, ele continua ativo e é o único artista a participar de todas as 57 edições do Baile Municipal do Recife. Em 2023, o carnaval da cidade homenageará um dos torcedores mais famosos do clube alvirrubro.

Claudionor Germano nasceu no Recife em 1932 e destaca que sua paixão pelas cores alvirrubras veio da influência de seu irmão, o Dr. Bianor da Hora, que jogou no juvenil do Náutico. “Isso fixou a gente, toda a família é Náutico”, afirmou. O primeiro frevo gravado em sua carreira também é ligado ao clube, pois foi gravado junto com “Come e Dorme”, hino do Náutico composto por Nelson Ferreira, que ainda é entoado pelos torcedores nos Aflitos e no Timbu Coroado, o maior bloco de clubes do mundo.

Nonô Germano, filho de Claudionor, liderará a celebração do Timbu Coroado em 2023. A tradição do clube é mantida viva não só por seu hino, mas também por outras expressões culturais, como a música e o carnaval, que mantêm a paixão da torcida ligada ao Náutico.

 

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