O Torneio dos Campeões da FBF, realizado em 1937, representou um marco na história do futebol brasileiro. Este torneio foi precedido pela primeira edição do Torneio Rio–São Paulo em 1933, vencido pelo Palestra Italia. Organizado pela Federação Brasileira de Futebol (FBF), esse torneio visava estabelecer um Campeonato Brasileiro de Clubes, em contraste com o campeonato de seleções da CBD, e funcionou como uma federação de futebol nacional entre 1933 e 1941.
O futebol no Brasil, desde o final do século XIX, enfrentou desafios para ultrapassar as barreiras estaduais, apesar da existência de clubes disputando campeonatos locais. Antes da década de 1910, não existia uma entidade nacional para regulamentar o futebol, até o surgimento das Federações Brasileira de Sports (FBS) e Brasileira de Football (FBF). Estas, contudo, foram absorvidas pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD), que posteriormente incluiu em sua assembleia geral membros das federações associadas.
A CBD foi fundamental para organizar o futebol brasileiro, tanto em competições internacionais, como na primeira edição do Campeonato Sul-Americano de Futebol em 1916, quanto em torneios nacionais. Entretanto, enfrentou desafios financeiros e de atritos entre as ligas de Rio de Janeiro e São Paulo. Em 1922, a CBD organizou o primeiro Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, que foi a principal competição de futebol em nível federal até 1962.
Na década de 1930, surgiram tensões devido ao debate entre amadorismo e profissionalismo. Clubes de São Paulo e Rio de Janeiro romperam com a CBD e formaram uma nova FBF. Para se estabelecer, a FBF organizou um campeonato brasileiro de clubes profissionais em 1933, sendo a origem do Torneio Rio-São Paulo. No entanto, disputas políticas e a profissionalização do futebol interromperam as edições subsequentes do torneio até 1940.
Em 1937, ao invés de realizar o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, a FBF organizou o Torneio dos Campeões com clubes campeões estaduais de 1936, sendo reconhecido em 2023 pela CBF como a primeira edição do Campeonato Brasileiro. O Atlético-MG foi homologado como o primeiro campeão brasileiro.
Antes de 1940, a FBF e a CBD chegaram a um acordo, com a FBF participando da gestão do futebol nacional e a CBD focando na representação internacional. Com a promulgação do Decreto-Lei 3 199 em 1941, a FBF foi dissolvida e incorporada à CBD.
Assim, o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais manteve-se como a principal competição do país. Contudo, os principais clubes, que já disputavam seus campeonatos estaduais e realizavam amistosos para arrecadação, resistiam a ceder jogadores para as seleções estaduais, gerando descontentamento com o modelo de disputa do campeonato.
Taça Brasil
O período inicial de regularização das competições nacionais de futebol no Brasil foi marcado pela Taça Brasil e pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa/Taça de Prata, entre 1959 e 1970. A Confederação Brasileira de Desportos (CBD) reconheceu a necessidade de um torneio nacional que unisse clubes de todo o país. Isso levou à criação da Taça Brasil em 1959, após deliberações no Congresso Brasileiro de Futebol de 1955. Este torneio foi planejado para integrar equipes de diferentes estados, oferecendo uma alternativa ao Torneio Rio-São Paulo e à Copa Rio Internacional, que se limitavam a clubes cariocas e paulistas.
A Taça Brasil começou com um formato eliminatório, envolvendo campeões estaduais, e provou ser um sucesso financeiro tanto para os clubes quanto para a CBD. O Bahia conquistou o título em 1959, seguido pelo Palmeiras em 1960. O Santos dominou o torneio nas edições subsequentes, vencendo cinco vezes consecutivas. O torneio serviu não apenas para determinar o campeão nacional, mas também para selecionar o representante brasileiro na recém-criada Copa Libertadores da América.
Paralelamente, em 1967, o Torneio Rio-São Paulo foi expandido para incluir clubes de outros estados, tornando-se o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, conhecido como “Robertão”. Este torneio foi adotado pela CBD e renomeado como Taça de Prata, estabelecendo-se como uma competição nacional de prestígio. Durante este período, mais de um clube foi reconhecido como “campeão brasileiro” pela imprensa, embora o Robertão/Taça de Prata fosse o único reconhecido oficialmente pela CBD.
O Palmeiras se destacou novamente em 1967, conquistando ambos os títulos nacionais, um feito único na época. Posteriormente, Botafogo e Santos foram reconhecidos como campeões brasileiros por suas vitórias na Taça Brasil e na Taça de Prata, respectivamente. O Robertão continuou a ser o principal torneio nacional até 1970, com o Palmeiras e o Fluminense conquistando os títulos finais. Durante esses anos, clubes de fora do eixo Rio-São Paulo, como Internacional, Grêmio, Atlético Mineiro e Cruzeiro, também se destacaram nas competições.
Torneio Roberto Gomes Pedrosa
Desde 2003, o Campeonato Brasileiro de Futebol passou a adotar um formato consistente de pontos corridos, promovendo estabilidade e crescimento ao longo dos anos. Anteriormente, o campeonato enfrentava mudanças anuais em seu formato e regras. Com a nova estrutura, as equipes jogam em dois turnos, e o time com mais pontos ao final é coroado campeão. O Cruzeiro foi o primeiro campeão neste formato.
No entanto, a edição de 2005 foi marcada pelo infame escândalo da Máfia do Apito, onde o árbitro Edílson Pereira de Carvalho foi preso por manipular resultados para beneficiar apostadores.
A partir de 2006, o número de times foi fixado em 20, e a temporada passou a ocorrer de maio a dezembro, com 38 rodadas totalizando 380 jogos. Desde então, diversos clubes como Cruzeiro, Santos, Corinthians, São Paulo, Flamengo, Fluminense, Palmeiras e Atlético Mineiro conquistaram o título.
Em 2012, o Campeonato Brasileiro foi classificado pela IFFHS como o segundo melhor do mundo. Além disso, em 2013, o Fluminense escapou do rebaixamento devido à perda de pontos de outros times por escalações irregulares.
Também houve reconhecimento histórico de títulos. Em 2010, títulos antigos da Taça Brasil e Torneio Roberto Gomes Pedrosa foram unificados ao Campeonato Brasileiro. Similarmente, em 2023, o Torneio dos Campeões de 1937 também foi incorporado ao histórico do campeonato.
O formato do campeonato envolve 20 clubes competindo em sistema de pontos corridos, com os seis melhores se qualificando para a Copa Libertadores. O campeão da Libertadores também ganha acesso à Copa do Mundo de Clubes da FIFA e à Recopa Sul-Americana.
Os troféus do campeonato também têm sua própria história, desde o Troféu Taça Brasil até o atual troféu, patrocinado pela Chevrolet desde 2014. Em 2000, uma taça exclusiva foi usada devido a uma suspensão judicial da CBF, conhecida como Copa João Havelange.
Transmissão Televisiva
A transmissão televisiva do Campeonato Brasileiro de Futebol tem sido um elemento crucial nas finanças dos clubes desde a implementação do sistema de pontos corridos. Atualmente, o Grupo Globo detém os direitos exclusivos de transmissão, oferecendo jogos ao vivo através de suas plataformas: TV Globo (televisão aberta), SporTV (TV por assinatura) e Premiere (pay-per-view). Desde 2013, o Fox Sports também participa, transmitindo melhores momentos e reprises dos jogos.
A história da transmissão do Brasileirão é marcada por diversas mudanças. Em 1986, a Rede Manchete transmitiu com exclusividade a final do campeonato. O primeiro contrato significativo foi firmado em 1987 pelo Clube dos 13 com a Globo, no valor de 3,4 milhões de dólares. Nesse mesmo ano, o SBT transmitiu a final, em um contexto onde a Globo optou por não exibir o cruzamento entre os clubes dos módulos verde e amarelo do campeonato.
Nos anos de 1990 e 1991, a Rede Bandeirantes adquiriu os direitos de transmissão, destacando-se a final de 1990 com o Corinthians, que alcançou um Ibope de 53 pontos na Grande São Paulo. A Globo começou a priorizar a competição a partir de 1992.
Em 1997, houve restrições para transmissões ao vivo em cidades onde ocorriam as partidas, exceto na fase final. Nesse ano, o Clube dos 13 negociou um novo contrato com a Globo, que também compartilhou os direitos com a Band. Além disso, 1997 marcou a estreia do Premiere e do SporTV nas transmissões, após um controverso contrato com a Globosat. Um contrato anterior com a TVA/Editora Abril para a ESPN Brasil foi desfeito em favor da proposta da Globo.
Em 2000, durante a Copa João Havelange, apenas a Globo transmitiu a competição. Contudo, o Vasco, na final, usou a logomarca do SBT em seu uniforme, em um gesto de provocação. Apesar do grande público, a baixa audiência levou a Globo a cancelar a transmissão de algumas partidas.
O Clube dos 13, em 2001, dividiu os clubes em grupos para definir quotas de transmissão. Em 2003, a Globo renovou o contrato por 130 milhões de dólares por ano, aumentado para 300 milhões de dólares em 2005.
Em 2009, os direitos foram abertos para licitação, levando a Globo a firmar o maior contrato da história do futebol brasileiro, no valor de 1,4 bilhão de reais para as edições de 2009 a 2011. Em 2012, os contratos foram novamente negociados, dividindo os clubes em quatro grupos financeiros.
A Rede Bandeirantes encerrou sua transmissão em parceria com a Globo em 2016. No mesmo ano, o Esporte Interativo, do grupo Turner, adquiriu os direitos de transmissão para vários clubes na TV por assinatura, para competições entre 2019 e 2024, em oposição ao canal SporTV.
Conclusão