A História da Seleção Brasileira de Futebol
A Seleção Brasileira de Futebol, sob a gestão da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), uma entidade privada, participa das competições internacionais organizadas pela CONMEBOL e FIFA, representando o Brasil. Estabelecida em 1915, rapidamente se consolidou como um dos principais ícones do país, recebendo denominações como “Seleção”, “Seleção Canarinho” e “Verde-Amarela”. Com uma trajetória de êxitos incomparáveis no cenário do futebol global, ostenta o recorde de maior número de vitórias em Copas do Mundo, totalizando cinco campeonatos (1958, 1962, 1970, 1994, 2002), além de ser a equipe com mais títulos na Copa das Confederações da FIFA, com quatro conquistas (1997, 2005, 2009, 2013). Possui, ainda, nove campeonatos da Copa América (1919, 1922, 1949, 1989, 1997, 1999, 2004, 2007, 2019) e foi medalhista de ouro olímpico em 2016 e 2021, vencendo ambos os torneios sem derrotas.
Reconhecida mundialmente pelo seu “futebol arte”, a Seleção tem enriquecido o futebol desde 1958 com a atuação de jogadores memoráveis. Pelé, o expoente máximo dessa lista, é frequentemente citado como um dos maiores futebolistas de todos os tempos, acompanhado por Garrincha, “o anjo de pernas tortas”, e uma série de astros que inclui Didi, Nilton Santos, Djalma Santos, Rivellino, entre outros, até chegar aos talentos atuais, como Richarlison, Neymar e Vini Jr.
O início do futebol no Brasil é tema de debates e divergências. As teorias sobre sua introdução variam, indo desde a influência de empresas britânicas até a adoção do esporte por escolas e seminários no final do século XIX. Segundo a narrativa oficial, Charles William Miller, um brasileiro de ascendência inglesa, foi quem introduziu o futebol no Brasil em 1894, trazendo consigo duas bolas de futebol ao retornar de seus estudos em Southampton.
Entre 1903 e 1913
O futebol experimentou um notável crescimento, especialmente em São Paulo e Rio de Janeiro. Clubes e seleções da Argentina, Chile, Uruguai, Inglaterra, Itália e Portugal visitaram o Brasil para jogar amistosos contra times estaduais de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Esses times locais frequentemente incluíam jogadores estrangeiros que atuavam em clubes brasileiros, além de seleções nacionais formadas exclusivamente por atletas brasileiros.
De 1914 a 1938
Marcou-se a formação e os primeiros anos da Seleção Brasileira. Em 21 de julho de 1914, a Seleção jogou sua primeira partida contra o Exeter City da Inglaterra, no estádio do Fluminense Football Club, com resultados disputados variando entre uma vitória brasileira por 2 a 0 e um empate em 3 a 3. Naquele mesmo ano, o Brasil enfrentou a Argentina em dois jogos, um amistoso e outro válido pela Copa Roca, vencendo em Buenos Aires por 1 a 0 e conquistando o troféu. Esse foi o primeiro entre vários títulos para a Seleção Canarinho.
O primeiro grande título da Seleção foi o Campeonato Sul-Americano de 1919 (atual Copa América), com o Brasil derrotando o Uruguai no Estádio das Laranjeiras. Em 1922, o Brasil conquistou o bicampeonato Sul-Americano, também no estádio ampliado do Fluminense.
O Brasil sempre se classificou para todas as edições da Copa do Mundo, mas suas primeiras participações foram marcadas por desafios internos relacionados ao profissionalismo, impedindo a convocação dos melhores times. Conflitos entre as federações de São Paulo e Rio de Janeiro resultaram em uma seleção composta apenas por jogadores de uma das federações em algumas ocasiões.
Copa do Mundo de 1930 e 1934
Na Copa do Mundo de 1930 e 1934, o Brasil foi eliminado na primeira fase, mas em 1938 alcançou um promissor terceiro lugar, com Leônidas da Silva se destacando como artilheiro e melhor jogador do torneio. Contudo, as participações de 1934 e 1938 também foram marcadas por controvérsias com a arbitragem.
Entre 1942 e 1946, não houve Copa do Mundo devido à Segunda Guerra Mundial.
Em 1949, o Brasil quebrou um jejum de 27 anos sem títulos oficiais ao vencer a Copa América, derrotando o Paraguai por 7 a 0 na final.
A Copa do Mundo FIFA de 1950, realizada no Brasil, terminou em desilusão com a derrota na final contra o Uruguai no episódio conhecido como Maracanaço. Após essa derrota, o Brasil mudou seu uniforme para as cores amarelo, azul e branco.
Na Copa do Mundo FIFA de 1954, a equipe brasileira, já renovada e usando o novo uniforme, foi eliminada nas quartas de final pela Hungria em uma partida controversa conhecida como a Batalha de Berna, marcada pela violência em campo e decisões arbitrais questionáveis.
Era de ouro
De 1958 a 1970, o Brasil experimentou sua “Era de Ouro” no futebol, conquistando três campeonatos mundiais em quatro edições da Copa. Nesse período, o time, que tinha como base os jogadores dos clubes Botafogo e Santos, contava com talentos excepcionais como Pelé, Vavá e Garrincha.
Sob a orientação de Vicente Feola, a equipe brasileira seguiu normas rigorosas durante a Copa de 1958 na Suécia. Além de proibições como o uso de chapéus e guarda-chuvas ou fumar em uniforme, a seleção inovou ao incluir um psicólogo e um dentista na comitiva, refletindo preocupações tanto mentais quanto físicas.
Na competição, o Brasil enfrentou desafios intensos, mas destacou-se desde o início, superando adversários fortes com estratégias iniciais agressivas, especialmente contra a União Soviética. Essa partida, que incluiu a entrada decisiva de Zito, Garrincha e Pelé, ficou marcada pelos “três minutos mais espetaculares da história do futebol”, levando o Brasil à vitória e, eventualmente, ao seu primeiro título mundial com uma vitória convincente de 5 a 2 sobre a Suécia.
Garrincha e Vavá brilhando
Em 1962, o Brasil reforçou seu status de potência no futebol ao conquistar o bicampeonato. Com Garrincha e Vavá brilhando novamente, a seleção superou a ausência de Pelé, lesionado, para triunfar na final contra a Tchecoslováquia.
A Copa de 1966, porém, foi marcada por controvérsias e desilusões para o Brasil, afetado por tensões internas e violência contra seus jogadores, especialmente Pelé. Apesar de um começo promissor, o Brasil não passou da fase de grupos, em grande parte devido a entradas duras que não foram adequadamente punidas pelos árbitros.
Pelé desequilibrando
Retornando triunfante, o Brasil conquistou o tricampeonato em 1970, com uma campanha impecável sob a liderança de Zagallo, que assumiu após a substituição de João Saldanha. Com uma equipe que contava com Pelé, Tostão, Jairzinho e Rivelino, o Brasil venceu todos os jogos, culminando em uma vitória de 4 a 1 sobre a Itália na final, garantindo não apenas o título mas também a posse permanente da Taça Jules Rimet.
Essa era notável, marcada por conquistas inéditas e futebol memorável, estabeleceu o Brasil como uma lenda no cenário mundial, celebrando a riqueza de talentos e a paixão nacional pelo esporte.
24 anos sem levantar o troféu
Após o triunfo em 1970, o Brasil enfrentou períodos sem vitórias em competições de grande importância, permanecendo 24 anos sem levantar o troféu da Copa do Mundo e 19 anos sem conquistar a Copa América.
Em 1974, a seleção, já sem a presença de Pelé, Gérson, Carlos Alberto Torres, Tostão e Clodoaldo, participou da Copa na Alemanha. A equipe ainda contava com Rivelino e Jairzinho, e sob a liderança de Zagallo, incluía jogadores notáveis como Leão e Ademir da Guia. Apesar de um elenco talentoso, a seleção enfrentou dificuldades na fase inicial e só avançou após vencer o Zaire. Contra a Holanda, conhecida pelo seu “carrossel holandês”, o Brasil acabou derrotado em um jogo marcado pela tensão e violência.
A eliminação brasileira gerou controvérsia, especialmente pela atuação do árbitro alemão Kurt Tschenscher, acusado de favorecimento. As críticas se intensificaram com acusações de João Havelange contra a arbitragem, sugerindo uma possível retaliação pela sua eleição à presidência da FIFA. A seleção terminou em quarto lugar, após perder para a Polônia.
A Copa de 1978 na Argentina trouxe novos desafios. Um gol brasileiro anulado contra a Suécia e uma derrota controversa para a Argentina, que necessitava de uma larga margem de vitória sobre o Peru para avançar à final, alimentaram teorias da conspiração. O Brasil terminou o torneio invicto, mas sem o título, o que levou à declaração de Cláudio Coutinho sobre serem “campeões morais”.
Esses episódios refletem um período de desafios e polêmicas para o Brasil em competições internacionais, marcando uma fase de jejum de títulos que só seria quebrada anos mais tarde.
Tragédia do Sarriá e Evolução
Em 1982, durante a Copa do Mundo na Espanha, o Brasil enfrentou um período conturbado conhecido como a “Tragédia do Sarriá”. Sob o comando de Telê Santana e contando com jogadores como Zico, Sócrates, Falcão e Júnior, a seleção brasileira era considerada uma das favoritas. Após uma estreia difícil contra a União Soviética, na qual a defesa brasileira falhou e o gol soviético foi anulado, o Brasil se recuperou e venceu por 2 a 1, com gols de Sócrates e Éder.
Na fase seguinte, o Brasil superou a Argentina, atual campeã, por 3 a 1, em uma partida marcada pela expulsão de Diego Maradona. No entanto, o confronto crucial veio contra a Itália, onde o Brasil precisava apenas de um empate para avançar. Apesar de começar bem, o Brasil acabou perdendo por 3 a 2, com Paolo Rossi marcando três gols decisivos para os italianos.
O jogo ficou marcado por polêmicas, incluindo um pênalti não marcado a favor do Brasil e um gol anulado da Itália. Essa derrota para a Itália, que acabou se sagrando campeã, foi considerada uma tragédia nacional, provocando comoção em todo o país.
Na Copa de 1986, no México, o Brasil foi eliminado nos pênaltis pela França nas quartas de final, depois de um empate por 1 a 1 no tempo regulamentar. Em 1989, porém, o Brasil conquistou o título da Copa América, encerrando um jejum de 19 anos sem títulos importantes.
Já em 1990, na Copa do Mundo na Itália, o Brasil enfrentou problemas internos e foi eliminado pela Argentina nas oitavas de final, em meio a polêmicas sobre a convocação e a atuação da equipe. Esse período foi marcado por diversos episódios controversos, como o “Caso Rojas” nas Eliminatórias e a derrota para a Argentina em meio a rumores de água “batizada” oferecida aos jogadores brasileiros.
Os Desafios Continuam
Em 1994, a conquista do tetracampeonato mundial pelo Brasil surpreendeu muitos, pois a equipe não era considerada favorita. Durante as eliminatórias, o Brasil teve dificuldades para se classificar, contando com a ajuda decisiva de Romário, apelidado de São Romário. Além disso, a equipe liderada por Carlos Alberto Parreira era criticada por adotar um estilo defensivo, contrariando a tradição do futebol brasileiro. No entanto, ao longo da Copa nos Estados Unidos, o Brasil superou essas críticas e avançou nas fases do torneio.
O destaque do time era Romário, que marcou cinco gols na competição e formou uma excelente parceria com Bebeto no ataque. Após liderar o grupo na primeira fase, o Brasil eliminou Camarões, Rússia e os Estados Unidos nas oitavas de final, em uma partida disputada no dia 4 de julho, data da independência americana. Nas quartas de final, superou a Holanda e, na semifinal, enfrentou novamente a Suécia, garantindo sua vaga na final.
Na decisão contra a Itália, o Brasil venceu nos pênaltis e se tornou a primeira seleção tetracampeã do mundo. O título foi conquistado de forma emocionante, reafirmando a posição do Brasil como uma potência no futebol mundial. Após a Copa, Zagallo assumiu como técnico da equipe, mirando agora a conquista da medalha de ouro nas Olimpíadas de Atlanta em 1996.
Nos anos seguintes, a seleção enfrentou altos e baixos, ficando em segundo lugar na Copa América de 1995 e sofrendo uma derrota histórica para a Nigéria nas semifinais das Olimpíadas de 1996. No entanto, o Brasil se recuperou e conquistou o título da Copa América de 1997, além da Copa das Confederações.
Em 1998, o Brasil entrou na Copa do Mundo com expectativas elevadas, especialmente com Ronaldo em destaque. No entanto, uma série de acontecimentos controversos, incluindo a misteriosa convulsão de Ronaldo antes da final contra a França, levantou dúvidas e especulações sobre a atuação da equipe. O Brasil acabou perdendo a final por 3 a 0 para os franceses, em uma partida marcada pela apatia da equipe brasileira. O episódio gerou diversas teorias da conspiração, mas independente disso, a derrota foi um marco na história do futebol brasileiro.