Charles Miller, após retornar da Inglaterra onde havia se familiarizado com o futebol, estabeleceu o primeiro torneio desta modalidade em São Paulo, Brasil. Em 14 de dezembro de 1901, a Liga Paulista de Foot-Ball (LPF) foi fundada, contando inicialmente com cinco times: São Paulo Athletic, Internacional, Mackenzie, Germânia e Paulistano. A primeira competição ocorreu entre abril e outubro de 1902, com o São Paulo Athletic Club sagrando-se campeão e Charles Miller como artilheiro. Ao contrário do que ocorria na Argentina e no Uruguai, o futebol brasileiro era inicialmente praticado principalmente pelas elites.
A final do Campeonato Paulista de 1902, que foi o primeiro campeonato estadual do Brasil, ocorreu entre São Paulo Athletic Club e Club Athletico Paulistano, resultando em 2×1. O futebol começou a ganhar popularidade ao longo dos anos. O Club Athletico Paulistano, formado por jovens das famílias mais abastadas de São Paulo, emergiu como um time de destaque. A percepção sobre o futebol começou a mudar após a turnê do Corinthian, uma equipe amadora de Londres, que impressionou o público jovem com suas vitórias sobre os melhores times brasileiros da época. Inspirados por eles, trabalhadores locais fundaram o Corinthians, o primeiro clube popular da cidade.
Dos anos 1910 ao final dos anos 1930
A popularidade crescente do futebol entre as classes mais baixas resultou em um desacordo dentro da LPF, cujos dirigentes defendiam que o futebol deveria permanecer um esporte elitista. Isso levou à criação da Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA), que promoveu o futebol em todas as classes sociais. Times como Corinthians, Palestra Itália (hoje conhecido como Palmeiras) e Paulistano foram fundamentais na nova liga.
A LPF encerrou suas atividades em 1917, e a APEA tornou-se a única liga em São Paulo até 1926. A presença de jogadores destacados como Neco do Corinthians e Arthur Friedenreich do Paulistano, junto com equipes fortes e grandes multidões, consolidou o futebol como o esporte mais popular no Brasil. Surgiram debates sobre a profissionalização do futebol. O Paulistano, então com mais títulos, optou por permanecer amador e fundou a Liga dos Amadores de Futebol (LAF) em 1925. A rivalidade entre as duas ligas impulsionou a expansão do futebol, incluindo equipes do interior do estado.
Profissionalização do Paulistão
A transformação do futebol paulista começou em 1930, após o declínio da LAF e o encerramento do departamento de futebol do Paulistano. Em 1933, com a criação da Liga Bandeirante de Futebol, o futebol profissional ganhou impulso. Neste contexto, Corinthians e Palestra Itália destacaram-se como as principais forças do estado. Paralelamente, ex-membros favoráveis à profissionalização do Paulistano, em conjunto com a A.A. das Palmeiras, fundaram o São Paulo Futebol Clube, que logo se estabeleceu como uma das principais equipes.
O campeonato estadual de 1933 foi marcante, sendo o primeiro estadual profissional do Brasil e a segunda competição profissional no país, precedida apenas pelo Torneio Rio-São Paulo do mesmo ano. O primeiro jogo profissional no Brasil foi um amistoso na Vila Belmiro, onde o São Paulo venceu o Santos por 5 a 1. Curiosamente, Arthur Friedenreich, inicialmente contrário à profissionalização, marcou o primeiro gol profissional do futebol brasileiro.
Novos Tempos
Com o fim das atividades da APEA em 1936, a Liga Bandeirante de Futebol, fundada em 1934, evoluiu para a atual Federação Paulista de Futebol, criada em 1941. O São Paulo, reforçado por Leônidas da Silva, dominou o cenário, conquistando cinco dos oito campeonatos subsequentes. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Palestra Itália, por motivos políticos, renomeou-se para Palmeiras e foi campeão em 1942. O crescimento do futebol levou à criação da segunda divisão em 1948, ampliando a participação de equipes do interior.
Na década de 1950, São Paulo, Palmeiras e Corinthians foram os grandes protagonistas. O Santos, embora competitivo, ainda aguardava o reconhecimento dos três times da capital. O campeonato de 1954 foi emblemático, fazendo parte das celebrações do quarto centenário de São Paulo. Em uma partida decisiva no Estádio do Pacaembu, Corinthians e Palmeiras empataram, resultado que garantiu o título ao Corinthians, que só voltaria a ser campeão em 1977.
A chegada de Pelé em 1957 revolucionou o futebol. Com seus gols memoráveis, o Santos conquistou nove dos doze campeonatos seguintes. Pelé foi o artilheiro em todos os anos de 1957 a 1965, estabelecendo o recorde de 58 gols em 1958, um feito ainda não superado. Nessa era, o Santos dominou amplamente, exceto pelas vitórias do Palmeiras em 1963 e 1966.
O duelo entre Santos e Palmeiras em 1959 resultou em um Supercampeonato Paulista histórico, decidido em três jogos emocionantes no Pacaembu, com o Palmeiras sagrando-se campeão. Desde a década de 1960, competições nacionais começaram a rivalizar com os campeonatos estaduais em popularidade, embora muitos torneios paulistas ainda marcassem a história do futebol brasileiro.
Anos 1970 Em 1973
Anos 1970 Em 1973, um erro do árbitro Armando Marques na final do Campeonato Paulista entre Santos e Portuguesa resultou na proclamação de dois campeões. O confronto terminou empatado em 0 a 0, e após um empate na prorrogação, seguiu para os pênaltis. O árbitro encerrou as cobranças prematuramente com o Santos liderando por 2 a 0, sem permitir que a Portuguesa realizasse suas duas últimas cobranças. Reconhecendo o erro após a partida, a Federação Paulista de Futebol decidiu dividir o título entre as duas equipes.
Em 1977, o Corinthians quebrou um jejum de títulos que durava quase 23 anos, ao vencer a Ponte Preta na final. O histórico gol do volante Basílio no Estádio do Morumbi, perante aproximadamente 150 mil espectadores, encerrou a espera corintiana de 22 anos, 8 meses e 7 dias por um título estadual, tornando-se uma das conquistas mais memoráveis do clube.
Anos 80
Os anos 80 foram marcados por embates entre o Corinthians, liderado por Sócrates, e o São Paulo, com Serginho Chulapa.
Anos 1980 A Democracia Corintiana, com sua filosofia inovadora de gestão participativa dos jogadores, conquistou o campeonato em 1982 e 1983. Enquanto isso, o São Paulo emergiu como o time de maior sucesso da década, conquistando os títulos de 1980, 1981, 1985, 1987 e 1989. Esses anos foram marcados pelo surgimento de Müller e Silas, os “Menudos do Morumbi”, apelidados em referência à popular banda porto-riquenha Menudo.
Em 1986, a Inter de Limeira surpreendeu ao derrotar o Palmeiras na final do campeonato no Estádio do Morumbi. Em 1990, Bragantino e Novorizontino protagonizaram a primeira final entre equipes do interior, uma das maiores surpresas da história do Paulistão.
Anos 1990
Anos 1990 O São Paulo, liderado por Raí, Muller e Zetti, conquistou o Paulistão em 1991 e 1992, com Raí se destacando como artilheiro em 1991. Em 1993, o Palmeiras, com jogadores como Evair, César Sampaio, Roberto Carlos, Zinho e Edmundo, encerrou um jejum de 16 anos sem títulos, vencendo o Corinthians por 4 a 0. O clube repetiu o feito em 1994 e 1996, com a campanha de 1996 sendo a melhor de uma equipe na era profissional do campeonato, marcando 102 gols.
O Corinthians obteve o troféu cinco vezes de 1995 a 2003, consolidando-se como a equipe de maior sucesso nos primeiros 100 anos do campeonato, com 25 títulos.
Desde 2000, o Campeonato Paulista vem perdendo popularidade, sendo visto pelas principais equipes como uma etapa de preparação para competições maiores, como a Copa Libertadores e o Campeonato Brasileiro. No entanto, o Paulistão mantém sua relevância na revelação de novos talentos, na sustentação do futebol do interior e na preservação das rivalidades históricas, especialmente entre os grandes
Paulistão no Século XXI